sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Pateta no Trânsito

Os Poemas Possíveis: Química


Sublimemos, amor. Assim as flores
No jardim não morreram se o perfume
No cristal da essência se defende.
Passemos nós as provas, os ardores:
Não caldeiam instintos sem o lume
Nem o secreto aroma que rescende.

(José Saramago)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A Palavra Mágica

Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.

Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.

Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.

(Carlos Drummond de Andrade)

Quem quer ser Piruá?

Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito de elas serem. Ignoram o dito de Jesus: “Quem preservar a sua vida perdê-la-á”. A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria a ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás, que não servem para nada. Seu destino é lixo.

Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...

(Alves, Rubem, 1933. O amor que acende a lua. Campinas: Papirus, 1999. p. 59 – 64. )
FONTE: http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=568

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Nem tudo é fácil

É difícil fazer alguém feliz,
Assim como é fácil fazer triste.

É difícil dizer eu te amo,
Assim como é fácil não dizer nada

É difícil valorizar um amor,
Assim como é fácil perdê-lo para sempre.

É difícil agradecer pelo dia de hoje,
Assim como é fácil viver mais um dia.

É difícil enxergar o que a vida traz de bom,
Assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua.

É difícil se convencer de que se é feliz,
Assim como é fácil achar que sempre falta algo.

É difícil fazer alguém sorrir,
Assim como é fácil fazer chorar.

É difícil colocar-se no lugar de alguém,
Assim como é fácil olhar para o próprio umbigo.

Se você errou,peça desculpas...

É difícil pedir perdão?
Mas quem disse que é fácil ser perdoado?

Se alguém errou com você, perdoa-o...

É difícil perdoar?
Mas quem disse que é fácil se arrepender?

Se você sente algo, diga...

É difícil se abrir?
Mas quem disse que é fácil encontrar alguém que queira escutar?

Se alguém reclama de você, ouça...

É difícil ouvir certas coisas?
Mas quem disse que é fácil ouvir você?

Se alguém te ama, ame-o...

É difícil entregar-se?
Mas quem disse que é fácil ser feliz?

Nem tudo é fácil na vida...
Mas, com certeza, nada é impossível.

Precisamos acreditar, ter fé e lutar para que não apenas sonhemos,
Mas também tornemos todos esses desejos,realidade!!!

(Cecília Meireles)

Ser grande

Para ser grande, sê inteiro:
Nada teu exagera ou exclui. 
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha,
Porque alta vive.

(Fernando Pessoa)

Sobre o Amor e o Sexo

O amor sonha com a pureza
sexo precisa do pecado
o amor é sonho dos solteiros
sexo é sonho dos casados



(Arnaldo Jabor)

Alma perdida

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente…
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste… e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh’alma
Que chorasse perdida em tua voz!…



(Florbela Espanca)

Canção do Sonho Acabado

Já tive a rosa do amor
- rubra rosa, sem pudor.
Cobicei, cheirei, colhi.
Mas ela despetalou
E outra igual, nunca mais vi.
Já vivi mil aventuras,
Me embriaguei de alegria!
Mas os risos da ventura,
No limiar da loucura,
Se tornaram fantasia…
Já almejei felicidade,
Mãos dadas, fraternidade,
Um ideal sem fronteiras
- utopia! Voou ligeira,
Nas asas da liberdade.
Desejei viver. Demais!
Segurar a juventude,
Prender o tempo na mão,
Plantar o lírio da paz!
Mas nem mesmo isto eu pude:
Tentei, porém nada fiz…
Muito, da vida, eu já quis.
Já quis… mas não quero mais…

(Cecília Meireles)

Dualismo

Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se, a arder, no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.

Pobre, no bem como no mal, padeces;
E, rolando num vórtice vesano,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.

Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas das virtudes satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:

E, no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demônio que ruge e um deus que chora.



(Olavo Bilac)

Inconstância

Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à Vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...

E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...
(Florbela Espanca)

Memórias de Emília

Emília
- A vida da gente, senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais.

[...]

A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia.
Pisca e mama;
pisca e anda;
pisca e brinca;
pisca e estuda;
pisca e ama;
pisca e cria filhos;
pisca e geme os reumatismos;
por fim pisca pela última vez e morre.

- E depois que morre? – perguntou Visconde.

- Depois que morre vira hipótese. É ou não é?

Monteiro Lobato

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Amor e Sexo nas palavras de Arnaldo Jabor

O amor tem jardim, cerca, projeto. [...] O amor depende de nosso desejo, é uma construção que criamos. Sexo não depende de nosso desejo; nosso desejo é que é tomado por ele. Ninguém se masturba por amor. Ninguém sofre de tesão. O sexo é um desejo de apaziguar o amor. O amor é uma espécie de gratidão posteriori pelos prazeres do sexo.

O amor vem depois, o sexo vem antes. No amor, perdemos a cabeça, deliberadamente. No sexo, a cabeça nos perde. O amor precisa do pensamento.

[...] O amor sonha com uma grande redenção. [...] O amor é um desejo de atingir a plenitude. [...] O amor vive da impossibilidade sempre deslizante para a frente. O sexo é um desejo de acabar com a impossibilidade.

Fernando Pessoa

Resolvi começar a semana publicando um texto de Fernando Pessoa que, como sempre, oferece uma lição para reflexão.


Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...

Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.

Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?

Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu....


Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.

O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...

Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.

Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.

Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.

Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.

Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.

Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".

Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!

Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.

Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.

Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.

Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..

E lembra-te :

Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão

AMOR QUE NOS TRÁS FELICIDADE E PAZ

Psicologia Infanto-Juvenil

Vamos ver sobre o ângulo de porque algumas pessoas depois da conquista desistem do conquistado.

O que vamos falar acontece com algumas pessoas, tendo a origem no inicio da vida do bebê e tem a ver com o balanceamento entre os afetos e cuidados corporais fornecidos pela mãe. Sabe-se hoje que se esse balanceamento não for adequado pode na vida adulta originar o medo da intimidade, tendo como conseqüência o comportamento de conquista e abandono.

Há um elemento nas relações amorosas que devem ser analisadas, pois podem determinar os estabelecimentos de uma parceria. O queremos considerar é a idéia de “conquista”. Nesse caso, a aproximação amorosa teria seu desfecho quando uma das partes se revelasse tão apaixonada que nada mais poderia negar ao amado. Estaria então realizada a conquista e o desvalorizado objeto de amor, agora à mercê do vitorioso, já pode ser abandonado.

É a isso que damos o nome de conquista. Tem muito a ver com paciência, auto-afirmação e vingança do que com ternura e afeto. Mas a conquista é impossível na ausência absoluta do afeto. Então, o que em geral mais encontramos é a mistura de desejo pelo outro com o prazer do triunfo. Como ocorre bastante, um olhar penetrante na infância nos guiará no labirinto dos sentimentos que constituem o amor.

Podemos destacar dois aspectos polares - conquista e aproximação mutua – de uma mistura complexa que é a atração erótica.

Na primeira etapa da vida o amor erótico vai surgindo e se consolidando no recebimento de ternura, leite cuidados físicos e carinho. Mais adiante, tendo já a criança adquirida uma inicial capacidade de discernimento, sente a mãe como conquistada; é uma mãe que pode ser manipulada para fornecer bens que, apesar da resistência materna, a criança deseja.

Quer se referir neste caso a objetos aos qual a criança só tem acesso pela mãe, como roupa e guloseimas. Ela experimenta um poder sobre a mãe ao vencer sua relutância em fornecer tais objetos. Esse é o componente de conquista do amor infantil.

A mãe sabe exercer uma intimidade carinhosa, sabe trocar afetos e atender com critério a parte das demandas matérias do filho, estará preparando um filho capaz de lidar com os contraditórios sentimentos da relação amorosa.

Mães insensíveis, que não percebem as demandas de afeto do filho, mas atendem aos seus pedidos matérias, poderão construir uma conjuntura na qual a rejeição de intimidade com a conseqüente incompreensão afetiva convive com o sentimento de capacidade de a criança provocar comportamentos objetivos e obter artefatos. Para não se sentir rejeitada, a criança evita pedir afeto, concentrando-se naquilo que obtém pelo controle e manipulação da mãe, com comportamentos objetivos e objetos matérias. A criança desiste da mãe afetiva.

Transportando isso para a idade adulta resulta em uma pessoa que conquista e repudia, usufruindo o parceiro por um tempo e abandonando-o antes que se concretizem os temores de se sentir incompreendido.

A relação de afeto fica ofuscada pelas demandas objetivas e materiais. È próprio das necessidades matérias exigirem a toda hora novos objetos. E o parceiro, transformando em objeto, é trocado por outro antes manifeste o seu presumindo comportamento de instabilidade.

A relação se alicerça então na denominação, e não na compreensão.

As dosagens de mutualidade e conquista erótica em relação dependem de como experiências passadas forma elaboradas e transformadas em modos de vinculação. O aspecto conquista poderá ter menos força que o aspecto compreensão. A relação poderá então se manter por tempo suficiente para que a experiência presente corrija as distorções do passado. O reconhecimento do uso da conquista como defesa contra a frustrante sensação de falta de intimidade facilitará a preservação e o desenvolvimento das relações.

Texto baseado em estudo do psicanalista Nahman Armony

Fonte: http://www.jctorres.com.br/saude%20e%20bem%20estar.html

Carta a Charlotte Payne-Townshend

Esta carta foi escrita, por Bernard Shaw, para sua futura esposa e me faz lembrar que o mais importante não é o destino,- Destino, finitude... o fim pode chegar a qualquer momento.- e, sim, curtir o percurso.


[...] Não: você não me ama nem um pouquinho. Tudo isso é natureza, instinto, sexo: não prova nada mais que isso. Não se apaixone: seja você, própria, nem minha nem de ninguém. A partir do momento em que não puder ficar sem mim você estará perdida [...]. Nunca tema: se nos queremos de verdade, acabaremos descobrindo. Só sei que você tornou o outono muito feliz e que sempre vou gostar de você por isso. Com o futuro não me preocupo: façamos o que está em nossas mãos & aguardemos os acontecimentos. Minha queridíssima!

G.B.S.

(O Teatro das Idéias de Bernard Shaw)

O doce sabor da ilusão

Ao longo desses anos em silêncio, minhas meditações casuais sobre a vida ensinaram-me: as pessoas têm medo de perder suas ilusões (...) Eu não tinha mais ilusões. Por isso mesmo, não tinha medo. A serenidade explicava-se, mesmo que os olhos cada vez mais raros e surpresos dos outros não conseguissem entendê-la. Paciência. De minha parte, tarefas cumpridas. Descansar. Espatifada a capacidade de crer na menor ilusão. É importante que um homem as tenha, as ilusões: deixe as pessoas com algumas poucas ilusões e você será feliz. Guarde uma ou duas para si por precaução, e não as mostre, assim, para qualquer um. Por mim, estou livre delas. Não as tenho mais e não as quero novamente.

Do livro de Marcos Lacerda "Um Estranho em Mim."

Angústia de Viver

Toda a gente forceja por criar uma atmosfera que a arranque à vida e à morte. O sonho e a dor revestem-se de pedra, a vida consciente é grotesca, a outra está assolapada. Remoem hoje, amanhã, sempre, as mesmas palavras vulgares, para não pronunciarem as palavras definitivas. E, como a existência é monótona, o tempo chega para tudo, o tempo dura séculos

Raul Brandão

O doce sabor da ilusão

Ao longo desses anos em silêncio, minhas meditações casuais sobre a vida ensinaram-me: as pessoas têm medo de perder suas ilusões (...) Eu não tinha mais ilusões. Por isso mesmo, não tinha medo. A serenidade explicava-se, mesmo que os olhos cada vez mais raros e surpresos dos outros não conseguissem entendê-la. Paciência. De minha parte, tarefas cumpridas. Descansar. Espatifada a capacidade de crer na menor ilusão. É importante que um homem as tenha, as ilusões: deixe as pessoas com algumas poucas ilusões e você será feliz. Guarde uma ou duas para si por precaução, e não as mostre, assim, para qualquer um. Por mim, estou livre delas. Não as tenho mais e não as quero novamente.

Do livro de Marcos Lacerda "Um Estranho em Mim."